Na família em que eu nasci,
principalmente para meu pai, nascido no primeiro ano do século XX (e que lia
jornal de São Paulo), a educação era um escudo à prova de bala. Meus anos de
estudo me levaram a concluir, como muitos dos educadores progressistas de
nossos dias, que a educação é um assunto de todos, e todos por ela devem se
interessar.
Percebe-se, no entanto, que a
educação está cada vez mais privatizada, ou seja, atende mais interesses
particulares que públicos. A mesma educação para todos em sala de aula, está a
exigir ainda uma luta hercúlea.
Hannah Arendt (1906-1975),
pensadora política, nos indica que se amamos nossas crianças (o futuro) não
podemos deixá-las ao léu, mas ajudá-las a renovar o mundo. Concordando com esta
visão de Arendt, o educador e filósofo espanhol Jorge Larrosa argumenta que a
educação não está para o indivíduo, nem para a sociedade, está sim para o
mundo. Em paralelo, o educador brasileiro Paulo Freire (1921-1997) sustenta sua
obra na ideia de que ninguém educa ninguém, os homens se educam entre si,
mediados pelo mundo.
No final do ano de 2024, nós,
membros do LEPED, avaliamos que tínhamos feito leituras interessantes no seu
decorrer: principalmente relemos Deleuze e textos do professor e filósofo
Silvio Gallo, da Unicamp. Em algumas aulas, o grupo era grande, mas as
presenças não eram constantes. Membros entravam e saíam, sem fecharmos
propostas fundamentais. O grupo de alunos junto a professora elaborou um
documento com propostas de normas para sanar as dificuldades encontradas. Além
dessas normas foi sugerida a leitura dos últimos livros de Jorge Larrosa (Os 3
Elogios: da Escola, do Professor e do Estudo). Em 2025, iniciamos a leitura do
livro “Elogio do Estudo”, uma vez que queríamos muito entender o sentido
original do que é estudar.
Durante o ano participei de
apenas 2 desses encontros no novo formato. A existência de uma irmã em “estado
terminal” de Alzheimer, no interior do Estado de São Paulo, não permitiu que eu
estivesse presente nos dias programados. Tentei estudar o primeiro livro
recomendado.
O Elogio do Estudo
Jorge Larrosa, filósofo e
educador espanhol, edita seu primeiro livro no Brasil pela editora Autêntica.
Trata-se de uma reflexão sobre a relação entre o sagrado e o profano na
sociedade contemporânea. Para Larrosa, a sociedade moderna vem perdendo a
conexão com o sagrado que é entendido como aquilo que é transcendental,
misterioso e profundo. Em contraponto, a sociedade atual se concentra no
profano, que se preocupa com as coisas cotidianas e da eficiência. Ainda para
Larrosa, educação deve ter um papel importante na recuperação do sagrado, para
que as pessoas possam se conectar com o que é mais profundo e significativo na
vida.
A educação, argumenta o filósofo,
deve ser uma experiência que permita que possamos nos relacionar com o mundo de
maneira mais comprometida. Ainda, uma educação que recupera o sagrado, seria
uma abordagem educacional que valoriza a dimensão transcendental. Essa
abordagem se caracteriza por uma conexão com a experiência humana, o que
significa que a educação que recupera o sagrado, se concentra em ajudar os
estudantes a se conectarem com suas próprias experiências, emoções e
questionamentos, em vez de apenas transmitir conhecimentos abstratos. A
valorização da contemplação (prática que permite aos estudantes se conectarem
com o presente, com a natureza, com a arte, com a música, etc.) não se
trata de dimensão religiosa, mas sim
espiritual. Podemos dizer que essa dimensão a que Larrosa se refere é
espiritual, embora não seja necessariamente religiosa.
Espiritualidade, nesse contexto,
refere-se a busca por significado, propósito e conexão com algo maior do que si
mesma, dimensão que pode ser explorada através da contemplação, reflexão, criatividade,
da natureza, etc. Nesse sentido, a educação que recupera o sagrado, ajuda o
estudante a encontrar significado em sua vida e se tornar mais consciente da
própria existência e do mundo ao seu redor.
O livro reúne reflexões sobre o
valor e o significado do estudo, abordando temas como a relação entre o estudo
e a vida, a importância da curiosidade da busca pelo conhecimento, e a crítica
à instrumentalização da educação. Também defende a ideia de que o estudo é uma
atividade valiosa em si mesma, independentemente de seus resultados práticos ou
utilitários. Para mim, "Elogio do Estudo" é um livro que celebra o
valor intrínseco do estudo e defende uma abordagem mais reflexiva e humanista
da educação. Ao ler esse livro, podemos nos inspirar a valorizar o estudo como
uma forma de viver e de se desenvolver como pessoas.
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