sábado, 21 de junho de 2025

Trabalho de Campinas - Ayeres Brandão

 

Na família em que eu nasci, principalmente para meu pai, nascido no primeiro ano do século XX (e que lia jornal de São Paulo), a educação era um escudo à prova de bala. Meus anos de estudo me levaram a concluir, como muitos dos educadores progressistas de nossos dias, que a educação é um assunto de todos, e todos por ela devem se interessar.

Percebe-se, no entanto, que a educação está cada vez mais privatizada, ou seja, atende mais interesses particulares que públicos. A mesma educação para todos em sala de aula, está a exigir ainda uma luta hercúlea.

Hannah Arendt (1906-1975), pensadora política, nos indica que se amamos nossas crianças (o futuro) não podemos deixá-las ao léu, mas ajudá-las a renovar o mundo. Concordando com esta visão de Arendt, o educador e filósofo espanhol Jorge Larrosa argumenta que a educação não está para o indivíduo, nem para a sociedade, está sim para o mundo. Em paralelo, o educador brasileiro Paulo Freire (1921-1997) sustenta sua obra na ideia de que ninguém educa ninguém, os homens se educam entre si, mediados pelo mundo.

No final do ano de 2024, nós, membros do LEPED, avaliamos que tínhamos feito leituras interessantes no seu decorrer: principalmente relemos Deleuze e textos do professor e filósofo Silvio Gallo, da Unicamp. Em algumas aulas, o grupo era grande, mas as presenças não eram constantes. Membros entravam e saíam, sem fecharmos propostas fundamentais. O grupo de alunos junto a professora elaborou um documento com propostas de normas para sanar as dificuldades encontradas. Além dessas normas foi sugerida a leitura dos últimos livros de Jorge Larrosa (Os 3 Elogios: da Escola, do Professor e do Estudo). Em 2025, iniciamos a leitura do livro “Elogio do Estudo”, uma vez que queríamos muito entender o sentido original do que é estudar.

Durante o ano participei de apenas 2 desses encontros no novo formato. A existência de uma irmã em “estado terminal” de Alzheimer, no interior do Estado de São Paulo, não permitiu que eu estivesse presente nos dias programados. Tentei estudar o primeiro livro recomendado.

 

O Elogio do Estudo

Jorge Larrosa, filósofo e educador espanhol, edita seu primeiro livro no Brasil pela editora Autêntica. Trata-se de uma reflexão sobre a relação entre o sagrado e o profano na sociedade contemporânea. Para Larrosa, a sociedade moderna vem perdendo a conexão com o sagrado que é entendido como aquilo que é transcendental, misterioso e profundo. Em contraponto, a sociedade atual se concentra no profano, que se preocupa com as coisas cotidianas e da eficiência. Ainda para Larrosa, educação deve ter um papel importante na recuperação do sagrado, para que as pessoas possam se conectar com o que é mais profundo e significativo na vida.

A educação, argumenta o filósofo, deve ser uma experiência que permita que possamos nos relacionar com o mundo de maneira mais comprometida. Ainda, uma educação que recupera o sagrado, seria uma abordagem educacional que valoriza a dimensão transcendental. Essa abordagem se caracteriza por uma conexão com a experiência humana, o que significa que a educação que recupera o sagrado, se concentra em ajudar os estudantes a se conectarem com suas próprias experiências, emoções e questionamentos, em vez de apenas transmitir conhecimentos abstratos. A valorização da contemplação (prática que permite aos estudantes se conectarem com o presente, com a natureza, com a arte, com a música, etc.) não se trata  de dimensão religiosa, mas sim espiritual. Podemos dizer que essa dimensão a que Larrosa se refere é espiritual, embora não seja necessariamente religiosa.

Espiritualidade, nesse contexto, refere-se a busca por significado, propósito e conexão com algo maior do que si mesma, dimensão que pode ser explorada através da contemplação, reflexão, criatividade, da natureza, etc. Nesse sentido, a educação que recupera o sagrado, ajuda o estudante a encontrar significado em sua vida e se tornar mais consciente da própria existência e do mundo ao seu redor.

O livro reúne reflexões sobre o valor e o significado do estudo, abordando temas como a relação entre o estudo e a vida, a importância da curiosidade da busca pelo conhecimento, e a crítica à instrumentalização da educação. Também defende a ideia de que o estudo é uma atividade valiosa em si mesma, independentemente de seus resultados práticos ou utilitários. Para mim, "Elogio do Estudo" é um livro que celebra o valor intrínseco do estudo e defende uma abordagem mais reflexiva e humanista da educação. Ao ler esse livro, podemos nos inspirar a valorizar o estudo como uma forma de viver e de se desenvolver como pessoas.

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