sábado, 21 de junho de 2025

O Estudo e o Leped - Helio Braga da Silveira Filho

 

Entendo o ato de estudar como uma expressão e uma necessidade humanas, pois materializa nossa capacidade de criação e projeção na vida. Nossas atitudes não podem prescindir de analisar, perscrutar e elaborar, são atividades que levam à exploração e à indagação, construindo correlações e reflexões sobre o que procuramos desvendar e conhecer.

O estudo, portanto, seria um modo de frequentar a vida, de estar nela inserido, como uma luminária espantando a escuridão na casa que habitamos, uma forma de cuidar e de ser, permitindo-nos existir; é o meio pelo qual buscamos alcançar um sentido em meio ao mistério que nos envolve.

Mas, apesar de o estudo ser profundamente identificado ao trabalho solitário e imersivo, muitas vezes marcado por uma dose de egoísmo, ele pede o momento do encontro e do compartilhamento, para que o produto de seu labor seja franqueado a outros, validado em um processo de aperfeiçoamento, passando a ser apropriado e lançado a outra dimensão, a ponto de ser considerado válido e valioso, ou não.

Portanto, pertencer a um grupo de estudo, como é o caso do Grupo de Estudos do Leped, é algo de extrema relevância, já que favorece todo esse processo acima enunciado. Ele é palco, usina e porto ao mesmo tempo, onde atores desenvolvem suas interpretações, catalisando forças propulsoras que, por sua vez, alimentam rotas de navegação e comércio, gerando fluxos de saberes e de singularidades.

O GEL tem envolvido, ao longo de seus anos de existência, dezenas de pessoas, possibilitando o encontro e a troca de experiências de vida variadas, as quais, por sua vez, têm se entrelaçado em um enorme novelo de referenciais teóricos e metodológicos, obras, autores, documentos, legislações, depoimentos e uma infinidade de matrizes instigadoras. Dessa trama, têm nascido produções diversas, individuais e/ou coletivas: pesquisas, reportagens, vídeos, monografias, livros, campanhas, encontros, debates, manifestos, artigos e festas, num espírito animador mesclado de crítica, criação e ação.

Seus encontros, tanto no formato presencial como no on-line, têm possibilitado a participação de variados tipos de estudiosos – graduandos, mestrandos, doutorandos, professores, gestores educacionais, psicólogos, coordenadores, educadores, moradores de diferentes cidades espalhadas pelo Brasil, cada qual com seu momento específico, com sua história única e uma procura compartilhada –, tendo como eixo central a questão da inclusão e da escola para todos. Buscando, no meu entender, um tipo específico de educação: “uma educação mais consequente sempre tenderá à formação (ou mais precisamente, à autoformação) de pessoas desadaptadas ao status quo, inconformadas, desajustadas e que passarão a desempenhar o papel desestabilizador dentro das organizações (e nas organizações escolares e acadêmicas, sobretudo) pela predisposição às experiências, vivências, imprevisibilidades dos processos, valorização do novo e do trágico, em detrimento das mesmices endêmicas, mesmo que travestidas de normas nos modismos educacionais, de gestão e de “representação democrática””.[1]

Os estudos desse grupo têm gerado uma postura pouco afinada ao acomodamento, muito pelo contrário, têm posto muito de nós, seus participantes, frente a questionamentos e revisões, obrigando intensa, e nada fácil, mudança de pensamento e de atitude frente aos complexos problemas da educação brasileira. Deixando claro que, em qualquer nível ou âmbito de atuação em que seus membros atuem, os embates estão postos, exigindo posturas consistentes e bem fundamentadas, opondo-se a um pensamento e a toda uma estrutura escolar que, como já bem colocava Rousseau, “ensina tudo menos a se conhecer, menos a tirar proveito de si mesmo, menos a saber viver bem e se tornar feliz”.[2]



[1] FERREIRA-SANTOS, Marcos & ALMEIDA, Rogério de. Antropolíticas da Educação. São Paulo: Képos, 2011, p. 10.

[2] ROUSSEAU, Jean-Jacques (1712-1778). Emílio ou Da Educação. Tradução de Sérgio Milliet. 2ª ed. revista – São Paulo: DIFEL, 1973, p. 24. (col. Clássicos Garnier da DIFEL)

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