Entendo o ato de estudar como uma expressão e uma necessidade
humanas, pois materializa nossa capacidade de criação e projeção na vida.
Nossas atitudes não podem prescindir de analisar, perscrutar e elaborar, são
atividades que levam à exploração e à indagação, construindo correlações e
reflexões sobre o que procuramos desvendar e conhecer.
O estudo, portanto, seria um modo de frequentar a vida, de
estar nela inserido, como uma luminária espantando a escuridão na casa que
habitamos, uma forma de cuidar e de ser, permitindo-nos existir; é o meio pelo
qual buscamos alcançar um sentido em meio ao mistério que nos envolve.
Mas, apesar de o estudo ser profundamente identificado ao
trabalho solitário e imersivo, muitas vezes marcado por uma dose de egoísmo,
ele pede o momento do encontro e do compartilhamento, para que o produto de seu
labor seja franqueado a outros, validado em um processo de aperfeiçoamento,
passando a ser apropriado e lançado a outra dimensão, a ponto de ser
considerado válido e valioso, ou não.
Portanto, pertencer a um grupo de estudo, como é o caso do Grupo
de Estudos do Leped, é algo de extrema relevância, já que favorece todo esse
processo acima enunciado. Ele é palco, usina e porto ao mesmo tempo, onde
atores desenvolvem suas interpretações, catalisando forças propulsoras que, por
sua vez, alimentam rotas de navegação e comércio, gerando fluxos de saberes e
de singularidades.
O GEL tem envolvido, ao longo de seus anos de existência,
dezenas de pessoas, possibilitando o encontro e a troca de experiências de vida
variadas, as quais, por sua vez, têm se entrelaçado em um enorme novelo de
referenciais teóricos e metodológicos, obras, autores, documentos, legislações,
depoimentos e uma infinidade de matrizes instigadoras. Dessa trama, têm nascido
produções diversas, individuais e/ou coletivas: pesquisas, reportagens, vídeos,
monografias, livros, campanhas, encontros, debates, manifestos, artigos e
festas, num espírito animador mesclado de crítica, criação e ação.
Seus encontros, tanto no formato presencial como no on-line,
têm possibilitado a participação de variados tipos de estudiosos – graduandos,
mestrandos, doutorandos, professores, gestores educacionais, psicólogos, coordenadores,
educadores, moradores de diferentes cidades espalhadas pelo Brasil, cada qual
com seu momento específico, com sua história única e uma procura compartilhada
–, tendo como eixo central a questão da inclusão e da escola para todos.
Buscando, no meu entender, um tipo específico de educação: “uma educação mais consequente sempre tenderá à
formação (ou mais precisamente, à autoformação) de pessoas desadaptadas ao status quo, inconformadas, desajustadas
e que passarão a desempenhar o papel desestabilizador dentro das organizações
(e nas organizações escolares e acadêmicas, sobretudo) pela predisposição às
experiências, vivências, imprevisibilidades dos processos, valorização do novo
e do trágico, em detrimento das mesmices endêmicas, mesmo que travestidas de
normas nos modismos educacionais, de gestão e de “representação democrática””.[1]
Os
estudos desse grupo têm gerado uma postura pouco afinada ao acomodamento, muito
pelo contrário, têm posto muito de nós, seus participantes, frente a
questionamentos e revisões, obrigando intensa, e nada fácil, mudança de
pensamento e de atitude frente aos complexos problemas da educação brasileira.
Deixando claro que, em qualquer nível ou âmbito de atuação em que seus membros
atuem, os embates estão postos, exigindo posturas consistentes e bem
fundamentadas, opondo-se a um pensamento e a toda uma estrutura escolar que,
como já bem colocava Rousseau, “ensina tudo menos a se conhecer, menos a tirar proveito de si
mesmo, menos a saber viver bem e se tornar feliz”.[2]
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