domingo, 22 de junho de 2025

TRAVESSIA QUE EDUCA: DO DIREITO VIOLADO AO ACESSO CONQUISTADO - Sebastião Mendes de Oliveira

 

Nasci em um tempo e lugar onde não se ensinava que a diferença é riqueza. Cresci em Berizal, sertão mineiro, sem os dois membros superiores – condição que, aos olhos da escola da época, me desqualificava como sujeito da educação. Quando minha mãe buscou me matricular, ouviu da diretora que ali não era lugar para mim. Faltavam braços – diziam – como se a inteligência e a alma dependessem da anatomia.

Fiquei por quase três anos fora da escola. E talvez continuasse assim, invisível, se uma professora recém-formada, chamada Irene, não tivesse ousado contrariar a lógica da exclusão. Inspirada no pensamento corajoso de Maria Teresa Eglér Mantoan, ela não viu um problema, mas uma possibilidade. Abriu as portas da sala e do coração, assumindo o risco de me escutar. Ali, começou minha travessia – da exclusão à autonomia, da deficiência à potência, da invisibilidade à cidadania.

Com os pés, segurei lápis, abri cadernos e, sobretudo, escrevi minha própria história. Não havia escola especial em Berizal – e ainda bem. Aprendi desde cedo que se a escola não é para todos, então ela também não é para ninguém. Essa convicção me conduziu por longos caminhos até me tornar pedagogo, cientista social, advogado, professor e palestrante. Cada título, cada função, é também um manifesto: sou resultado da ideia que o LEPED defende há décadas – de que toda pessoa, inclusive a pessoa com deficiência, tem o direito inegociável de aprender, pertencer, transformar e ensinar.

Hoje, ao fazer parte do LEPED, não apenas relembro a criança que fui eu a reencontro em mim. É como se dissesse a ela: “Você venceu, mas a luta continua agora por outros”. O que vivencio nesse espaço de trocas, ao lado da professora Maria Teresa e de tantas mentes brilhantes que constroem saberes com compromisso e generosidade, ultrapassa os muros da universidade. Levo cada debate, leitura e inquietação para as escolas públicas do Norte de Minas e do Vale do Jequitinhonha territórios onde a inclusão, muitas vezes, ainda precisa resistir para existir.

Nas formações que conduzo, busco inspirar professores e famílias a acreditarem que a inclusão não é caridade nem adaptação. É justiça. E justiça, como nos ensina Maria Teresa Eglér Mantoan, não se faz com neutralidade, mas com compromisso e ética. Por isso, repito com orgulho: sou fruto da pedagogia da diferença, da escola que rompe com os modelos padronizados e aposta em sujeitos reais, inteiros, diversos. E tudo isso converge em uma só convicção: a pessoa com deficiência deve ser formada integralmente – com direito à formação omnilateral, aquela que contempla todas as dimensões do ser: intelectual, emocional, ética, estética, física e social.

Estudar, para mim, não é preparar para o mercado. É preparar para o mundo. É viver o estudo como travessia, como gesto de liberdade, como escuta do mundo e de si. Não é coincidência que hoje, ao lado de tantos colegas do LEPED, eu ecoe essas ideias. É coerência histórica. É coerência de vida.

Por isso, fazer parte do LEPED não é para mim uma questão de protagonismo, mas de profunda gratidão. Gratidão por estar em um espaço que me permite conviver com pessoas que pensam para além de si, que compartilham da mesma esperança que um dia inspirou a professora que me acolheu.

É naquele espaço, tão plural e pulsante, que reencontro o sentido das ideias que um dia me incluíram. É ali que minha história dialoga com tantas outras. Carrego comigo chão de terra, infância negada, fé de mãe, lápis entre os dedos dos pés e esperança plantada em cada palestra que faço. E isso, para mim, não é vaidade. É missão. É servir ao futuro com a dignidade que me foi negada no passado.

Participar ativamente do LEPED é mais que pertencer a um grupo de estudos. É compor um movimento que luta para que nenhuma criança seja deixada para trás. Que nenhuma mãe precise implorar pelo direito de seu filho à educação. E que cada professor tenha clareza de que ensinar é, acima de tudo, um ato de reconhecer a humanidade do outro.

Como nos ensina Maria Teresa: ensinar exige esperança. E é por essa esperança – concreta, cotidiana, atravessada de desafios – que continuo estudando, escrevendo, ensinando e, sobretudo, resistindo. Porque resistir, para mim, é isso: levar a palavra onde antes houve silêncio. Levar a inclusão onde antes houve recusa. Levar justiça onde antes houve exclusão.

sábado, 21 de junho de 2025

Trabalho de Campinas - Ayeres Brandão

 

Na família em que eu nasci, principalmente para meu pai, nascido no primeiro ano do século XX (e que lia jornal de São Paulo), a educação era um escudo à prova de bala. Meus anos de estudo me levaram a concluir, como muitos dos educadores progressistas de nossos dias, que a educação é um assunto de todos, e todos por ela devem se interessar.

Percebe-se, no entanto, que a educação está cada vez mais privatizada, ou seja, atende mais interesses particulares que públicos. A mesma educação para todos em sala de aula, está a exigir ainda uma luta hercúlea.

Hannah Arendt (1906-1975), pensadora política, nos indica que se amamos nossas crianças (o futuro) não podemos deixá-las ao léu, mas ajudá-las a renovar o mundo. Concordando com esta visão de Arendt, o educador e filósofo espanhol Jorge Larrosa argumenta que a educação não está para o indivíduo, nem para a sociedade, está sim para o mundo. Em paralelo, o educador brasileiro Paulo Freire (1921-1997) sustenta sua obra na ideia de que ninguém educa ninguém, os homens se educam entre si, mediados pelo mundo.

No final do ano de 2024, nós, membros do LEPED, avaliamos que tínhamos feito leituras interessantes no seu decorrer: principalmente relemos Deleuze e textos do professor e filósofo Silvio Gallo, da Unicamp. Em algumas aulas, o grupo era grande, mas as presenças não eram constantes. Membros entravam e saíam, sem fecharmos propostas fundamentais. O grupo de alunos junto a professora elaborou um documento com propostas de normas para sanar as dificuldades encontradas. Além dessas normas foi sugerida a leitura dos últimos livros de Jorge Larrosa (Os 3 Elogios: da Escola, do Professor e do Estudo). Em 2025, iniciamos a leitura do livro “Elogio do Estudo”, uma vez que queríamos muito entender o sentido original do que é estudar.

Durante o ano participei de apenas 2 desses encontros no novo formato. A existência de uma irmã em “estado terminal” de Alzheimer, no interior do Estado de São Paulo, não permitiu que eu estivesse presente nos dias programados. Tentei estudar o primeiro livro recomendado.

 

O Elogio do Estudo

Jorge Larrosa, filósofo e educador espanhol, edita seu primeiro livro no Brasil pela editora Autêntica. Trata-se de uma reflexão sobre a relação entre o sagrado e o profano na sociedade contemporânea. Para Larrosa, a sociedade moderna vem perdendo a conexão com o sagrado que é entendido como aquilo que é transcendental, misterioso e profundo. Em contraponto, a sociedade atual se concentra no profano, que se preocupa com as coisas cotidianas e da eficiência. Ainda para Larrosa, educação deve ter um papel importante na recuperação do sagrado, para que as pessoas possam se conectar com o que é mais profundo e significativo na vida.

A educação, argumenta o filósofo, deve ser uma experiência que permita que possamos nos relacionar com o mundo de maneira mais comprometida. Ainda, uma educação que recupera o sagrado, seria uma abordagem educacional que valoriza a dimensão transcendental. Essa abordagem se caracteriza por uma conexão com a experiência humana, o que significa que a educação que recupera o sagrado, se concentra em ajudar os estudantes a se conectarem com suas próprias experiências, emoções e questionamentos, em vez de apenas transmitir conhecimentos abstratos. A valorização da contemplação (prática que permite aos estudantes se conectarem com o presente, com a natureza, com a arte, com a música, etc.) não se trata  de dimensão religiosa, mas sim espiritual. Podemos dizer que essa dimensão a que Larrosa se refere é espiritual, embora não seja necessariamente religiosa.

Espiritualidade, nesse contexto, refere-se a busca por significado, propósito e conexão com algo maior do que si mesma, dimensão que pode ser explorada através da contemplação, reflexão, criatividade, da natureza, etc. Nesse sentido, a educação que recupera o sagrado, ajuda o estudante a encontrar significado em sua vida e se tornar mais consciente da própria existência e do mundo ao seu redor.

O livro reúne reflexões sobre o valor e o significado do estudo, abordando temas como a relação entre o estudo e a vida, a importância da curiosidade da busca pelo conhecimento, e a crítica à instrumentalização da educação. Também defende a ideia de que o estudo é uma atividade valiosa em si mesma, independentemente de seus resultados práticos ou utilitários. Para mim, "Elogio do Estudo" é um livro que celebra o valor intrínseco do estudo e defende uma abordagem mais reflexiva e humanista da educação. Ao ler esse livro, podemos nos inspirar a valorizar o estudo como uma forma de viver e de se desenvolver como pessoas.

O Estudo e o Leped - Helio Braga da Silveira Filho

 

Entendo o ato de estudar como uma expressão e uma necessidade humanas, pois materializa nossa capacidade de criação e projeção na vida. Nossas atitudes não podem prescindir de analisar, perscrutar e elaborar, são atividades que levam à exploração e à indagação, construindo correlações e reflexões sobre o que procuramos desvendar e conhecer.

O estudo, portanto, seria um modo de frequentar a vida, de estar nela inserido, como uma luminária espantando a escuridão na casa que habitamos, uma forma de cuidar e de ser, permitindo-nos existir; é o meio pelo qual buscamos alcançar um sentido em meio ao mistério que nos envolve.

Mas, apesar de o estudo ser profundamente identificado ao trabalho solitário e imersivo, muitas vezes marcado por uma dose de egoísmo, ele pede o momento do encontro e do compartilhamento, para que o produto de seu labor seja franqueado a outros, validado em um processo de aperfeiçoamento, passando a ser apropriado e lançado a outra dimensão, a ponto de ser considerado válido e valioso, ou não.

Portanto, pertencer a um grupo de estudo, como é o caso do Grupo de Estudos do Leped, é algo de extrema relevância, já que favorece todo esse processo acima enunciado. Ele é palco, usina e porto ao mesmo tempo, onde atores desenvolvem suas interpretações, catalisando forças propulsoras que, por sua vez, alimentam rotas de navegação e comércio, gerando fluxos de saberes e de singularidades.

O GEL tem envolvido, ao longo de seus anos de existência, dezenas de pessoas, possibilitando o encontro e a troca de experiências de vida variadas, as quais, por sua vez, têm se entrelaçado em um enorme novelo de referenciais teóricos e metodológicos, obras, autores, documentos, legislações, depoimentos e uma infinidade de matrizes instigadoras. Dessa trama, têm nascido produções diversas, individuais e/ou coletivas: pesquisas, reportagens, vídeos, monografias, livros, campanhas, encontros, debates, manifestos, artigos e festas, num espírito animador mesclado de crítica, criação e ação.

Seus encontros, tanto no formato presencial como no on-line, têm possibilitado a participação de variados tipos de estudiosos – graduandos, mestrandos, doutorandos, professores, gestores educacionais, psicólogos, coordenadores, educadores, moradores de diferentes cidades espalhadas pelo Brasil, cada qual com seu momento específico, com sua história única e uma procura compartilhada –, tendo como eixo central a questão da inclusão e da escola para todos. Buscando, no meu entender, um tipo específico de educação: “uma educação mais consequente sempre tenderá à formação (ou mais precisamente, à autoformação) de pessoas desadaptadas ao status quo, inconformadas, desajustadas e que passarão a desempenhar o papel desestabilizador dentro das organizações (e nas organizações escolares e acadêmicas, sobretudo) pela predisposição às experiências, vivências, imprevisibilidades dos processos, valorização do novo e do trágico, em detrimento das mesmices endêmicas, mesmo que travestidas de normas nos modismos educacionais, de gestão e de “representação democrática””.[1]

Os estudos desse grupo têm gerado uma postura pouco afinada ao acomodamento, muito pelo contrário, têm posto muito de nós, seus participantes, frente a questionamentos e revisões, obrigando intensa, e nada fácil, mudança de pensamento e de atitude frente aos complexos problemas da educação brasileira. Deixando claro que, em qualquer nível ou âmbito de atuação em que seus membros atuem, os embates estão postos, exigindo posturas consistentes e bem fundamentadas, opondo-se a um pensamento e a toda uma estrutura escolar que, como já bem colocava Rousseau, “ensina tudo menos a se conhecer, menos a tirar proveito de si mesmo, menos a saber viver bem e se tornar feliz”.[2]



[1] FERREIRA-SANTOS, Marcos & ALMEIDA, Rogério de. Antropolíticas da Educação. São Paulo: Képos, 2011, p. 10.

[2] ROUSSEAU, Jean-Jacques (1712-1778). Emílio ou Da Educação. Tradução de Sérgio Milliet. 2ª ed. revista – São Paulo: DIFEL, 1973, p. 24. (col. Clássicos Garnier da DIFEL)

 

O estudo como forma de vida: uma travessia possível

Marcia Maria do Nascimento

 

Participar dos estudos no grupo LEPED é partilhar experiências. Embora muitas vezes o estudo pareça ação solitária, ele não exclui o mundo: dialoga com ele, convoca outros tempos e vozes. É o estudo como abertura, como movimento, como forma de continuar. Proporciona experiências profundas de encontro com a palavra, com os autores e, comigo mesma enquanto sujeito do estudo. Estudar é, para mim, muito mais que uma atividade ligada à profissão docente. É um modo de existir com abertura, escuta e sensibilidade.

A leitura do livro Elogio do Estudo, de Jorge Larrosa, ao longo deste semestre, me fez repensar o sentido do estudar em minha vida e em minha prática cotidiana, ampliou meu repertório teórico e passou a habitar minha existência docente.

As reflexões proporcionadas me localizam no tempo e no espaço como alguém que estuda — não como mera atividade intelectual, mas como uma forma de ser e estar no mundo. Estudar, tal como apresentado, resgata sua origem na palavra grega scholé, que remete a tempo livre, paz, ócio e exercício do pensamento. Um tempo de liberdade e dedicação, de afeto e empenho — studium, do latim, que significa afeição, interesse, esforço, disposição espiritual e corporal.

O estudo, nesse sentido, não é apenas tarefa ou preparação para algo. É travessia, é possibilidade de ir além do que sou, é diálogo com autores, ideias e mundos, mesmo quando realizado no silêncio individual, convoca o mundo em sua pluralidade de tempos e espaços. O estudo ressoa em mim não apenas como formação, mas como forma de vida — uma experiência que me afeta, me transforma e me constitui.

Um exercício de pensamento,  que nos atravessa e nos modifica. Uma atividade que não promete resultados imediatos, mas que transforma o próprio modo de ser.

Nessa perspectiva, estudar é um ato de liberdade. Uma liberdade que exige escolha, entrega e presença. Não se trata de um fazer distraído, mecânico, mas de uma atitude ética e estética diante da vida. Nas palavras de Larrosa, o estudo é um tempo de escuta, de silêncio, de travessia — uma travessia que me leva para além de mim, em direção ao outro, ao desconhecido, ao imprevisível.

Percorri doces caminhos nas páginas do livro, dialogando com muitos autores como Aristóteles, Bourdieu e Rancière. E partir destes, emergiram questões fundamentais: a separação entre o tempo do estudo e o tempo do trabalho, o privilégio social do saber, a oposição entre os homens da scholé e os homens da necessidade.

No percurso histórico, essa liberdade originária vai sendo progressivamente apagada. Ao longo das civilizações, o sentido do estudo foi sendo esvaziado. O estudo, antes gratuito e voltado ao desinteresse, vai sendo capturado por lógicas utilitaristas, tornando-se instrumento de preparação para o trabalho e para o mercado.

A escola contemporânea, tensionada pelas exigências do neoliberalismo, transforma o estudante em trabalhador em formação, e o estudo em aprendizagem voltada para habilidades, competências e produtividade. Assim, perde-se o tempo livre do pensamento, e instala-se a lógica do consumo, do desempenho e da eficiência. A gratuidade dá lugar à utilidade; o afeto, ao cálculo. O tempo livre se transforma em tempo produtivo. Estudar passa a ser visto como caminho para alcançar competências, habilidades e eficiência — termos que invadem os documentos oficiais e os discursos educacionais.

Nesse contexto, o estudante é transformado em futuro trabalhador, a aprendizagem em instrumento para o consumo e o estudo em tarefa útil e rentável. A educação é capturada pelo discurso do mercado, e o tempo do pensar é comprimido pela urgência dos resultados. O desinteresse, como forma de liberdade, é substituído pelo desempenho. Essa visão empobrece o processo educativo e compromete a formação crítica dos sujeitos. Como professora, tenho vivenciado diariamente essas tensões: o desafio de manter viva a chama do estudo diante de pressões externas.

Contudo, nas reflexões propostas por Larrosa, encontrei uma abertura, uma fresta de liberdade que resiste. Estudar, verdadeiramente estudar, é um gesto de recusa e, ao mesmo tempo, de afirmação. Aquele que me constitui como ser pensante, que me sustenta diante dos desafios. Frente a recusa do imediatismo e da instrumentalização do saber. É a afirmação de uma vida que se deixa atravessar pela palavra, pela experiência, pela transformação. Estudar, nesse sentido, é um gesto político e vital.

O estudo como experiência de vida é um gesto necessário em tempos de pressa, de produtividade e de esvaziamento do sentido da educação. Quando vivido com afeto, empenho e liberdade, é capaz de transformar, serve à formação de um sujeito que pensa, sente e resiste.  Em um mundo que valoriza cada vez mais o fazer, estudar é um modo de dizer: “ainda estou aqui, e penso”.

Este estudo que experimento no LEPED é hoje o que me sustenta diante dos desafios da educação. Não como técnica ou solução rápida, mas como postura existencial e ética. Compreendi que o estudo é um ato de resistência, uma possibilidade de existir de maneira mais inteira, mais profunda.  Uma forma de estar no mundo que me permite escutar, compreender, questionar. Estudar é resistir. É, sobretudo, continuar.

sexta-feira, 13 de junho de 2025

EM BUSCA DO CONHECIMENTO

 

EM BUSCA DO CONHECIMENTO

                                                                                                             LUIZA PERCEVALLIS PEREIRA

Para a realização da tarefa do Grupo de Estudos LEPED recuperei meus arquivos e escritos sobre as reuniões de formação nas quais participei, porque revê-los é o ponto de partida para a minha análise sobre:  Como as reuniões e as reflexões feitas nesse grupo de estudos habitam e alimentam as minhas reflexões e ações pessoais”.

Navegando pelas pastas do meu computador encontrei a denominada “Grupo de Estudos Mantoan”. Dentre os itens ali arquivados detive-me nos textos em que a “Diferença”, sob a concepção de Deleuze, foi objeto de reflexão e estudo do grupo, com a participação especial da professora Mantoan.  Para meus desafios atuais, a reflexão sobre a inclusão educacional de pessoas com deficiência tem sido relevante, porque o respeito às diferenças desses estudantes é a diretriz que norteia minhas reflexões e o meu trabalho atual. Entretanto, mesmo que pareça óbvio considerar que cada ser humano é único e singular, na educação escolar, a busca pela homogeneidade no tempo passado, tanto na organização da escola como nas atividades pedagógicas, foi prestigiada e enfatizada. Romper com essa tradição cultural e com seus valores tem sido um trabalho árduo, cansativo até, mas necessário.

Buscando também as anotações sobre as reuniões nos meus cadernos percebi assuntos recorrentes, trazidos no grupo de estudos que, ampliam meu campo de interesse, devido à cooperação ativa dos participantes nas tarefas e reflexões do grupo, pois nesses momentos eles também colocam suas experiências de trabalho na educação. Essa participação coletiva, somada à reflexão de textos esclarecedores sobre os objetivos e rumos da educação na atualidade, fortalecidos com os questionamentos que surgem nos encontros do LEPED me possibilitam pensar sobre as políticas públicas em exercício, aplicadas pelos gestores educacionais nas escolas das redes de ensino e, também, sobre a intensidade dos seus efeitos na prática docente.

Mas, nem tudo são flores! Algumas vezes, ao término do encontro fecho o computador, me distancio do celular, deixo no escuro meu quarto de estudos e me pergunto: Por que continuar a pensar sobre a educação depois de tanto trabalho nas escolas públicas? Por que esse interesse infindo?

Os livros me respondem. Eles estão por toda a casa,  arrumados em estantes ou empilhados próximos ao computador. Eles me acompanham até nos aniversários dos netos, embrulhados como presentes e em nossas conversas, porque eles fazem parte do grupo de leitura da escola.

Lendo o livro “Elogio do estudo”, percebi que tenho características e hábitos próprios de uma vida estudiosa.

Meu ânimo estudioso também se recupera com os convidados especiais que  participam dos encontros de formação. Dentre eles destaco a professora Ana Maria Faccioli Camargo da disciplina “Prática de Ensino”, da UNICAMP, porque ela enfatizou a importância do poder da sala de aula e do professor, com sua diferença. Temas que me sensibilizam.

Acredito que nas salas de aula por onde estudei convivi com muitos professores que se viam como diferentes e agiam como tal. Eles se destacavam dos demais ao falarem sobre o mundo e sobre mim, ao me aproximar do conhecimento. A intimidade diária, intensificada durante anos com esses professores provocou meu desejo de fazer parte do mundo, atuando próxima a eles, na educação. “Uma virada de chave na minha vida”!

Enfim, o estudo assim dirigido e orientado no grupo de formação do LEPED tem ampliado meu tempo e espaços destinados aos estudos, refletindo sobre o conhecimento de mim mesma, do outro e da nossa relação com o conhecimento.

 

Referência Bibliográfica:

Elogio do estudo [livro eletrônico] / organização Fernando Bárcena, Maximiliano Valerio López, Jorge Larrosa; tradução Carlos Maroto Guerola. -- 1. ed. -- Belo Horizonte, MG : Autêntica, 2023. -- (Educação : Experiência e Sentido)

segunda-feira, 9 de junho de 2025

Leped

       O grupo de estudos LEPED me impulsiona a refletir sobre a realidade em que vivo. Apresenta questões que despertam o meu pensar “ser professor” e “ser estudante”. É um grupo acolhedor e cheio de vida!

         Com o livro “Elogio do estudo” de Fernando Barcena, Maximiliano Valerio López e Jorge Larrosa, foi possível refletir sobre a minha relação com o ato de estudar. Compreendi que estudar é um modo de vida, um modo de experienciar o mundo e cuidar dele. As perguntas e os silêncios das respostas são caminhos para o estudo. Vamos à escola para estudar o mundo. Ela é lugar de preparação, onde o mundo é cuidado pela memória, atenção e desejo.

No LEPED uma vida estudiosa é uma vida em construção, na qual as experiências cotidianas levantam perguntas e reflexões que levam ao estudo. Por exemplo, o problema da violência escolar cotidiana me levou a estudar o tema com leituras, palestras e reflexões. 

Assim, o grupo de estudos é como a sala de estudo do estudioso. Essa sala é também o mundo e o espaço escolhido para realizar o estudo. O LEPED continua despertando para a reflexão e também para estarmos atentos ao que o cotidiano nos ensina na relação com o outro.


domingo, 8 de junho de 2025

Estudar x Aprender

Edna de Oliveira

 A leitura do Livro “Elogio do Estudo” de Fernando Bárcena; Maximiliano Valerio López e Jorge Larrosa provocou em mim muitas reflexões sobre "estudar" e "aprender". Em meio a um contexto educacional no qual a palavra “aprendizagem” é tão recorrente e valorizada, os autores buscam recuperar o sentido do “estudar”, caracterizando as singularidades deste ofício. 

A aprendizagem tem a ver com aprender algo que remete a um objetivo (vinculado, muitas vezes, aos interesses econômicos); tem sempre um tempo delimitado (quanto menor, melhor); se dá por meio de métodos definidos; ao final, apresentam-se respostas e conquista-se um certificado.

O estudo é de outra natureza: parte de um interesse íntimo e uma curiosidade em conhecer e compreender o mundo e as coisas que existem nele; é descompromissado com a produtividade e por isso acontece num tempo e espaço onde seja possível se libertar das preocupações e tarefas mundanas; é um processo de se abrir para o mundo e à matéria de estudo, com atenção, respeito e amor, sem saber o que vamos encontrar; no estudo, respostas não saturam as perguntas.


Como profissional da educação, escolhi uma vida estudiosa, mesmo que isso me torne “um dos seres mais estranhos dos tempos atuais, em que tudo vai rápido demais e não tem demora (Skliar, p.34). O Leped é lugar de estudiosos, e estar aqui tem sido fundamental no processo de estudar e de me construir como educadora, pois, junto com os demais integrantes (outros “estranhos”), temos nos dedicado a leituras, debates e produções que, mais do que respostas, levantam outras perguntas e nos levam a mais estudos. Enquanto lemos, escrevemos, escutamos e pensamos, também buscamos desenvolver uma prática atenciosa, comprometida e amorosa que forme outros estudiosos que se interessem em conhecer e cuidar do mundo.


domingo, 1 de junho de 2025

Estudar para me manter viva

Ontem me dispus a rever o livro "Elogio do Estudo".Procurei aquelas frases que destaquei nos capítulos,reli-as ao acaso,virei e revirei suas páginas. E dei por finalizada a leitura.Fechei o livro sem que nada pudesse me sugerir um comentário. Hoje,o livro continuava sobre a mesa, provocando-me, discretamente. Fui ao encontro dele para me inspirar.Para comentar o que a leitura de seus capítulos me trouxera de novo, me encantara,suas revelações,confirmações sobre o que seria o estudar. De repente,olhei para as prateleiras cheias de livros que acumulei por esses tempos,em que tenho estudado o que é o ensinar.Quantos deles estão alí,enfileirados,à minha disposição ou à espera de quem deles precisar.Uns ficam mais no alto - os menos procurados no momento. Outros,mais abaixo,prontos para serem consultados,reestudados É comum eu rever alguns autores prediletos,consultá-los nas entrelinhas. Não deixo de lado os que são meus desafetos. Eles também precisam ser revisitados. Estudar resignifica nossos conceitos. Estudar nos redefine, nos transforma. Enquanto estudar for inevitável para mim, estarei viva!

AS ESPERIÊNCIAS DE ESTUDO EM TRÊS DIMENSÕES - Luiza Percevallis Pereira

  AS EXPERIÊNCIAS DE ESTUDO EM TRÊS DIMENSÕES                                                                                           Lu...