domingo, 21 de setembro de 2025

REFLEXÕES SOBRE O LIVRO “ELOGIO DO PROFESSOR”

 

REFLEXÕES SOBRE O LIVRO “ELOGIO DO PROFESSOR”

Luiza Percevallis Pereira

OBSERVAÇÕES:

As reflexões sobre o livro “Elogio do Professor” são baseadas na minha vida profissional na educação, no exercício dos cargos de Professora, Coordenadora Pedagógica e Supervisora Escolar, nas redes públicas de ensino municipal e estadual, nas cidades de São Paulo, Bauru e Lençóis Paulista. Após a aposentadoria continuei meus trabalhos em Organizações da Sociedade Civil (OSCIP), atuando na inclusão social da pessoa com deficiência.

As reflexões também são baseadas nos mundos que habito: 1- Com os Professores e livros, habito o mundo da Pedagogia, que movimenta meu fazer pedagógico, o mundo da Interdisciplinaridade, em suas interconecções,  o mundo da Contemplação e da Vida Espiritual e o mundo da Inclusão; 2- Com os Sistemas Educacionais habito o mundo diverso e múltiplo da Educação e o mundo orientador e poderoso da legislação educacional; 3- Com os alunos tive novas experiências de habitar o mundo da cultura, o mundo da beleza do ofício de ser professora e passei a enxergar melhor o  mundo  que violenta a infância e a adolescência das novas gerações.

Reflexões sobre o  Livro “Elogio do Professor”:

Partes do Trabalho para a reflexão: 1- Identificação, 2: Justificativa, 3- Objetivos, 4 -Metas/ Responsabilidades, 5- Procedimentos Metodológicos e 6- Conteúdo atendendo aos objetivos da coleção e do livro. 

1-      IDENTIFICAÇÃO:

1.1.O Livro: Elogio do professor tem como organizadores: Jorge Larrosa, Karen Christine Rechia e Caroline Jaques Cubas. Tradução: Fernando Coelho, Karen Christine Rechia e Caroline Jaques Cubas. Editora Autêntica- Belo Horizonte- 2021. 398 páginas.

O livro faz parte da Coleção: “Educação: Experiência e Sentido”, sob a Coordenação de Jorge Larrosa e Walter Kohan

      Elogio:

ü  Termo que nos remete à escrita sobre uma imagem, com intenção de louvar ou elogiar um personagem, neste trabalho: o professor (Larrosa, pág. 13)

ü  Se o elogio é uma forma de lamento, ele é também um modo de trazer à vida, de preencher de ânimo, aquilo que definhava e devolver sua potência (Glaucia Costa, pág. 122).

      Professor: não um tipo ideal, um modelo; mas sim, o professor encarnado. Suas ferramentas são: livros, cadernos, lápis, lousa, giz, através dos quais sua artesania se constitui, em seus gestos fundamentais.  (Larrosa, pág. 13)

1.2.Considero que o livro  Elogio do Professor resulta de um Trabalho Acadêmico,  Político - Pedagógico Interdisciplinar:

Político porque apresenta uma abordagem de resistência à cultura escolar da atualidade, ao focar a educação, a escola, o professor e a profissão docente.

Pedagógico porque se desenvolveu por meio de um processo de educação, com estratégias, etapas definidas, que promoveram a reflexão sobre os objetivos propostos.

Interdisciplinar porque:

o   Reuniu professores de várias áreas do conhecimento e com variada experiência docente, com nova atitude diante do conhecimento.

o   Atitude dos envolvidos em que o ineditismo foi encontrado nos aspectos já conhecidos, através de buscas de novas qualidades neles presentes, novas combinações de seus componentes, novos sentidos para seus objetivos, na ação individual e em parceria;

o   Apresentou elementos dos 05 princípios que formam a base da interdisciplinaridade: Coerência, Humildade, Espera, Respeito e Desapego perante o conhecimento, apresentados pela metáfora do olhar multifacetado interdisciplinar.

 

1.3.São 14 Professores Autores, das seguintes disciplinas:

      História: Caroline Jaques Cubas; Glaucia Dias da Costa; Karen Christine Rechia.

      Filosofia: Fernando Bárcena; Jan Masschelein; Jorge Larrosa.

      Geografia: Ana Maria Preve.

      Ciências Sociais: Thereza Cristina Bertazzo Silveira Viana.

      Ciências da Educação: Beatriz Fabiana Olarieta; Maximiliano Valerio López.

      Pós-Graduação em Sociologia Política: Thereza Cristina Bertazzo Silveira Viana.

      Biologia, Geografia e Pedagogia: Adriana Fresquet.

      História, Filosofia e Sociologia: Luiz Guilherme Augsburger.

      Estágio: Caroline Jaques Cubas; Glaucia Dias da Costa.

      Cinema: Cristiano Burlan.

      Cinema e Psicopedagogia : Adriana Fresquet.

      Teatro: Melissa Ferreira.

Experiência docente:

      Educação Infantil: Beatriz Fabiana Olarieta.

      Educação Básica: Adriana Fresquet; Glaucia Dias da Costa; Melissa Ferreira; Thereza Cristina Bertazzo Silveira Viana.

      Educação de Jovens e Adultos: Jorge Larrosa; Maximiliano Valerio López.

      Formação de formadores: Ana Maria Hoepers Preve; Glauvia Dias da Costa; Beatriz Fabiana Olarieta; Caroline Jaques Cubas; Jorge Larrosa; Karen Chistine Rechia.

      Pós-Graduação:  Jan Masschelein; Cristiano Burlan.

      Conferencista: Jorge Larrosa.

      Complexo penitenciário Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico: Ana Maria Hoepers Preve; Luiz Guilherme Augsburger (Oficinas)

2-      JUSTIFICATIVA:

2.1. Críticas à Escola: “A escola não consegue transcender a era da burocracia”; A escola está a serviço do capital econômico, pois o conhecimento é um bem econômico e há hierarquia nas formas de conhecimento que a escola reproduz sem hesitação”; “A escola deve se apoiar diretamente sobre a produção de resultados de aprendizagem, de competências que os alunos possam aplicar em um ambiente de trabalho e em ambiente social, cultural e político”.

ü  Obs: No livro “Em Defesa da Escola: Uma Questão Pública” de Jan Masschelein e Martan Simons, os autores explicam que:  Desde a sua origem, a escola provocou medo e perturbação, tornando-se uma fonte de ansiedade para aqueles que poderiam perder poder, privilégios ou alguma outra coisa, através da renovação que ela possibilita; Essa renovação é difícil de ser tolerada pelos conservadores, ou por todos os que procuram proteger seus patrimônios ou legados que consideram propriedades (elite cultural ou a geração mais velha, que trata a sociedade como sua propriedade, bem como a posse do futuro dos jovens, por exemplo)”; “Eles querem domá-la”, dizem os autores.  Domar a escola para eles significa governar e/ou controlar seu caráter democrático, público e renovador.

2.2. Críticas à carreira docente: O credencialismo da carreira docente, as recompensas econômicas (ou de outro tipo) em troca do que se chama de produtividade vão diretamente contra o amor, à medida que o substituem pelo interesse (a única paixão aparentemente legítima e dominante nesta época)

2.3. Críticas à cultura da aprendizagem que desqualifica o trabalho do professor e o considera: Fantoche educacional, Um mediador, Animador de aulas,  Treinador de competências, Gestor de emoções, Impulsionador de aprendizagens autônomas. Perdeu sua autoridade simbólica. Perdeu sua autonomia profissional. Necessita de controle e reciclagem permanente. Há dissolução do sentido público e independente de seu trabalho.

2.4.Críticas à atual redifinição do trabalho do professor porque contribui para a homogeneização de suas maneiras, para a erosão do seu pensamento, o esvaziamento de sua subjetividade (antes chamada de consciência) e, nessa lógica, fazê-lo cada vez mais idiota, mais obediente, mais estereotipado, mais precário, mais intercambiável, mais prescindível.

Obs:  O ofício é algo que seguramente perdemos mas que ainda podemos encontrar os rastros, algumas marcas  do “espírito artesão”(pág. 152-153)

2.5. Críticas ao Professor Amoroso: “O Professor amoroso é um ser em Paz. Mostra a beleza de ser professor fazendo bem o seu trabalho. (Larrosa, pág. 179-180):

ü  Críticas: A maioria dos professores não é assim; Você não conhece a realidade das coisas; Você não vive no mundo real (porque não entende seu ofício como um combatente)

ü  Pergunta: Para se ter um vínculo “real” com o mundo é preciso ser um lutador?

3- 0BJETIVOS

3.1. Objetivos da Coleção: Ampliar nossa liberdade de pensar a educação e de nos pensarmos, como educadores. Testemunhar experiências de escrever na educação, de educar na escritura (uma escritura que permita que nos livremos das verdades pelas quais educamos, nas quais nos educamos.

3.2- Objetivos do Livro Elogio do professor: Dedicar tempo e atenção às formas e aos gestos que, de alguma maneira, compõem o ofício do professor.

3.3. Objetivos do GEL: Refletir sobre o professor e a profissão docente e de nos pensarmos como educadores.

4-      METAS

4.1.Primeira parte do livro: “Elogios”: Celebrar aspectos particulares do ofício de Professor, naquilo que ele apresenta de público e comum.

4.2.Segunda parte: “Notas à margem”: Destacar resultados dos exercícios de leitura do livro  Esperando não se sabe o quê, direcionando questionamentos ao autor  e suas respostas.

4.3.Terceira parte do livro: “De incidências e coincidências” Dar atenção às conversas sobre o ofício do Professor como um modo de vida e sobre uma vida que se constitui a partir de maneiras particulares de ser, empreendidas por Larrosa ao longo de seis meses de cursos e conferências pela América Latina.

4.4.Quarta parte: “Exercícios: Apresentar atividades distintas que aconteceram em momentos diferentes que possibilitam um pensamento cuidadoso a respeito do ofício do professor.

5-Procedimentos Metodológicos: estratégias, atividades, recursos e etapas do projeto

5.1. Convite a pessoas com ânimo estudioso para participar da proposição abaixo, lendo um dos livros, escrevendo um texto sobre o tema comum,  e apresentá-lo em um congresso.

5.2. Estratégias comuns: Proposição de uma série de atividades congregadas sob o nome “Elogio do Professor”, ocorridas em setembro de 2018, em Florianópolis, Santa Catarina, analisá-las e escrever sobre elas.

5.3. Recursos: leitura de um dos livros abaixo, que contém elementos de materialização do ofício de Professor:

ü  Esperando não se sabe o quê (Larrosa, 2018)

ü  P de professor (Larrosa, 2018).

As reflexões sobre o livro serão apresentadas por meio da metáfora: “Ninho de pássaros”

 

A-     a base do ninho:

A Base de um ninho arquitetada pelos pássaros é firme, feita com gravetos bem juntos, formando um solo capaz de sustentar todo o movimento da  recriação.

Nesse livro: “Elogio do Professor”, considerei que sua base foi constituída pela escrita de  Jan Masschelein, Fernando Bárcena e Jorge Larrosa:

 

 

6- Conteúdo da primeira parte- Elogios (a base do ninho)

6.1. Destaques da escrita de Jan Masschelein

ü  Pedagogo: palavra de origem grega: Pais: criança e agoc: on-ducere ou colocar em movimento.

Em seu trabalho, o Pedagogo coloca a criança em movimento ao sair de casa e ir à escola, sair do mundo privado para o mundo público, em que tem a oportunidade de se bifurcar, de libertar-se de lógicas e pertencimentos restritivos para pensar e conversar com o mundo, que se abre na escola, que é um lugar de exercícios.

Na escola, cada estudante é chamado pelo nome, não sobrenome da família. Esse movimento provoca a experiência de ser sem destino, mas ser capaz de encontrar o próprio destino.

O Pedagogo vigia a escola para que permaneça escola, em sua via pedagógica, não um dispositivo político do Estado.

ü  A arte do falar pedagógico: A voz do professor tem força e autoridade, engendra uma presença e atenção compartilhada a algo que nos fala. É uma flecha em direção a outro lugar, é trazer à presença esse lugar antes ausente.

ü  Função docente: O aprender X O aprender na escola

A Escola como forma pedagógica: contem uma comunidade que não tem passado compartilhado. Consiste em um arranjo artificial de pessoas, tempo, espaço e matéria

A Escola vista como tempo livre: um tempo para o estudo, que coloca as pessoas próximas umas das outras e com o mundo: um mundo que se abre, em que os alunos começam a pertencer e a se interessar por ele.

A escola apresenta o que há no mundo e na sociedade como matéria escolar ou matéria pública. Tem artefatos e tecnologia própria ao colocar algo presente, que desperta a atenção e a curiosidade dos estudantes

Na escola, os estudantes colocam temporariamente sem efeito o uso habitual das coisas.

ü  A pragmática da escola: oferecer a experiência de ser sem destino, mas ao mesmo tempo de ser capaz de encontrar o seu próprio destino.

6.2   Destaques da escrita de Fernando Bárcena:

ü  Ser professor: não se ensina. É uma forma de vida, uma escolha existencial. Seu corpo não é somente biológico, é estendido pelos livros. Seu tom da voz é o seu próprio tom de vida; seu caminho impõe uma marcha e o seu reino não é deste mundo.  A  voz do professor tem autoridade para falar sobre o que é comum e universal.

ü  Bárcena tem 2 amores: amor pelas práticas de estudo, seus exercícios e rituais e seu amor pela sala de aula e estudantes. São amores rivais, devido às demandas que trazem consigo.

ü  As dificuldades lhes causam melancolia? Elas passam a ser seu ofício? Como agir?

O caminho é o amor pela contemplação, ao pensamento e à vida intelectual: um regime de estudo da “tribo dos melancólicos”.

“Os filósofos e os estudiosos pertencem a uma espécie de “aristocracia filosófica”, que concede para si o poder de se dedicar aos trabalhos do espírito”.

ü  A voz: Nós nos encontramos com nossa própria voz e tom: não precisamos de um método

ü  A escrita: É necessário encontrar seu caráter, sua natureza, seu ser, seu modo de se  expressar:

Pensar no amor: o amor que permite escrever e o amor que impede a escritura;

Aceitar a melancolia (considerada como um sentimento sagrado, obra dos deuses e marca da sabedoria e da genialidade;

Suportar a fadiga do estudo e assumí-la. A palavra estudo vem do latim e significa: empenho, aplicação, zelo, ânsia, cuidado, desvelo, afã e também possui o sentido de afeto.

ü  A via é a do Amor Pedagógico, que acompanha e adoça o caminho. É o amor pela contemplação, presente na vida intelectual do professor, que vive em vários mundos.

 

6.3. Jorge Larrosa O autor cita as coisas de comer, de usar e de mirar. A existência das coisas depende que os humanos não somente vivam na Terra, mas também habitem um mundo (lar humano para Arendt) (pág. 97).

ü  Professores oferecem a escola como matéria de estudo e outras coisas do mundo que mereçam atenção e respeito, ou seja, dão autoridade a elas e ao mundo. Mas o  capitalismo destrói o mundo e a cultura, pois transforma tudo em uso e utilidade.

ü  Gostamos da escola? Para que nos serve? A resposta é: preciso ir à escola porque o que está em jogo não é a felicidade, mas a salvação do mundo.

ü  Como fazer?

Respeitar ao mundo: olhar de novo, guardar distância, ou seja, não invadi-lo ou devorá-lo, não usá-lo. Reconhecer sua dignidade e autoridade (primazia).

ü  O Mundo significa:

Algo que deve ser transmitido às novas gerações (para a renovação);

Algo que pode ser destrutivo para as crianças e jovens.

ü  É preciso abrir uma espécie de vazios ou de buracos na cidade, que estejam livres da fome e da utilidade, da tirania sem mundo. As possibilidades são: a escola, a democracia e a filosofia.

 

B-     AS PAREDES PROTETORAS DO NINHO

 

 

 

As paredes que protegem o ninho dos pássaros são formadas de tal forma que além de conter os ovos, o cuidado dos pais para o nascimento dos filhotes em seus diversos movimentos, também possibilitam a ventilação e a segurança do ninho em todo o processo de trazer novas vidas à natureza e à continuação da espécie.

 

6- Conteúdo da SEGUNDA parte- NOTAS À MARGEM (pAREDES PROTETORAS do ninho)

Nessa parte do livro considerei como sendo suas paredes protetoras: Conceitos compartilhados ; A vocação; O espírito artesão; As características do trabalho artesanal; A linhagem; A beleza do trabalho do Professor; A Sala de Aula; A Prática Docente Consolidada; O Reconhecimento do Trabalho do Professor; As Brechas e os Buracos da Dominação; A Confiança no Porvir.

6.1. Conceitos compartilhados pelo grupo de professores autores

ü  Educação se relaciona com o duplo amor: amor pelo mundo e amor pela infância. Tem a ver como os velhos entregam o mundo aos novos para que o salvem da ruína, renovando-o.  Por isso dá o mundo como matéria de estudo, a experimentação, o jogo, a invenção. Mas também para que aprendam a respeitá-lo e não devorá-lo.

ü  Escola: Lugar não somente para a preparação para a vida mas, sobretudo como um espaço e um tempo separados para tornar possível a transmissão, a comunização e a renovação do mundo.

ü  Disciplinas escolares: refere-se à disciplina da atenção e do respeito pela matéria.

ü  Cultura: Conjunto de coisas tangíveis (livros, quadros, estátuas, músicas, idéias, teoremas), subtraído da erosão dos tempos e ao uso ou utilidade para captar nossa atenção e comover-nos. Coisas fabricadas para o mundo, não para os homens, e para perdurar além do ir e vir das gerações. São afastadas no consumo e uso e isoladas das esferas vitais humanas. Ao serem protegidas não nos servimos delas,  mas colocamo-nos ao seu serviço, protegendo-as (Arendt).

ü  A Escola em relação à cultura: Subtrair algumas coisas do uso, da função e utilidade; Colocá-las à distância para uma relação interessante e desinteressada; Chamar a atenção sobre elas e demorar-se nelas. É uma espécie de refúgio para o mundo, para a atenção ao mundo e para as crianças (para que sejam estudantes).

6.2. Glaucia Dias da Costa

ü  O trabalho docente é um ofício milenar que muda de acordo com as épocas e as funções que lhe atribuem.

ü  Características do trabalho artesanal: orgulho do próprio trabalho; perícia e empenho na produção de coisas ou objetos; lentidão na realização, de modo a garantir que a prática se consolide; gosto pela curiosidade; valorização da rotina e da repetição prática; e certa idéia de vocação, como o acúmulo de experiência somado à convicção de que se está destinado a fazer algo (Sennett, 2009 apud Glaucia Dias).

ü  A profissão docente como um ofício que carece de repetições e recomeços, de modo a garantir a perícia e a consolidação de uma prática.

ü  As mãos escolares, além de fabricarem objetos pedagógicos, como mapas, textos, cronogramas, provas com seus movimentos particulares, fazem gestos que conduzem, iluminam, apontam, desenham,criam e oferecem palavras e imagens ao mundo. Manipulam o mundo e o transformam em objetos de contemplação e aprendizado.

ü  A produção do professor é, em grande medida, intangível. Resta-lhe o sentimento de que “valeu a pena” que é uma forma de reconhecimento de si no  seu trabalho.

ü  Ser professor é “dar atenção ao mundo”, criar nas aulas “um tempo e um espaço nos quais seja possível conduzir olhares e produzir novas formas de olhar”.

ü  Caminho da escola grega: Larrosa nos dá um horizonte para pensar de modo diferente e resistir às investidas externas e que nada têm a ver com a educação e a escola.

ü  Vocação e ofício: Larrosa retira das palavras “vocação” e “ofício” seu caráter sagrado, eterno e imutável (exercício profano). A vocação ressignificada é um chamado ao estudo e ao aprimoramento do ofício.

ü  O artesão é um leitor de sinais emitidos pelo mundo e sua vocação se confirma na medida em que reconhece esses signos e se coloca na condição de prendê-los.

ü  A escola para Larrosa é um lugar de descoberta de vocações, na medida em que apresenta diferentes mundos, ampliando o repertório de interesses dos estudantes.

6.3. Jorge Larrosa responde à Glaucia:

ü  O que faz um professor? Produz devires orientados a modificar a relação com o mundo, fazendo-a mais atenta, mais sensível, mais receptiva e mais exata, através dos exercícios e do estudo.

ü  O professor e os estudantes estão sempre em processo e devires inacabados, incertos e imprevisíveis

ü  A relação das mãos com o cérebro, entre os modos de fazer e de pensar é fundamental no ofício do professor.

ü  Espírito artesão é reconhecer e valorizar os gestos e maneiras de professor.

6.4. Ana Maria H. Preve:

ü  O cansaço do exercício do ofício causa tristeza, desgosto e paralisia.

ü  A beleza precisa ser trazida à presença. (Resposta de Larrosa)

ü  A terra destruída faz com que percamos os caminhos que nos são próprios: do estudo (lugar, tempo, procedimentos) e a comunidade de estudo.

 

6.5.Jorge conversa com Maximiliano Lòpez

ü  Não se trata de enfrentar o capitalismo, mas de criar uma espécie de brechas ou cavar buracos no seu interior para viver de outra maneira, que escapa às regras da dominação e fazer as coisas de outro modo, com dinâmicas próprias, produzir um afastamento.

ü  Refúgios, bolhas respiráveis no interior de um ar irrespirável, mundos sutis, ingrávidos e gentis como bolhas de sabão.

ü  Emancipação: maneira de viver no mundo do inimigo na posição ambígua de quem combate a ordem dominante, mas também é capaz de construir lugares à parte, nos quais possa escapar das suas leis.

ü  Separação das lógicas do capitalismo: competitividade, promoção, meritocracia, critérios empresariais. Explorar as lógicas do exercício e do estudo (modificação da relação como o mundo, estar mais atento e cuidadoso. Construir uma experiência ampliada do mundo) ao invés das lógicas da aprendizagem (aquisição de saberes e de competências)

 

6.6.Maximiliano Lòpez: Gratuidade e Promoção

 

ü  A sala de aula: lugar fundamental da escola, lugar sagrado.  É o lugar mais antigo. Um lugar vazio, disponível, altamente ritualizado, que tem algo do refúgio, separado, protegido, no qual nos reunimos em torno de um objeto comum, de uma matéria de estudo. A sala de aula é muito mais antiga do que o sistema educacional, que teve seu início somente no século XIX.

Em sua materialidade muda, sua disposição espacial, em seus rituais e suas modestas ferramentas, a sala de aula conserva a semente daquilo que outrora se denominou teoria, vita contemplativa, ou, simplesmente, estudo.

É o lugar primordial no sentido de ser o lugar em que tudo começa ou recomeça; o lugar em que o mundo é cotidianamente                                        transmitido, renovado e posto em comum. Um lugar em que se oferece  o mundo às novas gerações.    

6.7.Luiz Guilherme Augsburger: amizade e linhagem

ü  A Linhagem atualmente é vista como uma filiação esvaziada de herança, pois tudo o que é antigo é sinônimo de ultrapassado e indesejável: somos sujeitos sem história, sem passado, sem herança.

ü  Phylum é um tipo de linhagem em que não nascemos, mas em que entramos, tem a ver com uma arte de fazer, como um ofício.

ü  O phylum professoral é um tipo de filiação em que nos inserimos por meio da escuta de um chamado. Que se dá por uma herança, mas também através do gesto de pôr em jogo a figura do amigo- esse com quem se anda e que diz quem somos- e de uma philia- um amor das minúcias, da confiança por algo ou alguém, que nos move sem que o queiramos possuir. Phylum que nos faz ser quem somos e que fazemos ser quem é.        

                                                                                                                                      

6.8.Larrosa responde a Augsburger:  

ü  A tradição do ofício de professor é o que nos falta.

ü  A Linhagem em relação ao ofício: Não somos iniciadores, nem superadores, somos herdeiros e descendentes. Nosso ofício é milenar (uma arte grega) e as dificuldades que encontramos não são muito diferentes   das de nossos predecessores. A linhagem seria uma espécie de inter-relação narrativa de vidas presentes e passadas. O passado está conosco na medida em que forçamos o futuro: ao mesmo tempo que avança, vai recordando o caminho, voltando a trazer as linhas traçadas.

ü  Linhagens maquínicas de Deleuze e Guattari em Mil Platôs, que temos indicado mas ainda não contextualizado.

 

6.9.Fernando Bársena e Jorge Larrosa

ü  A relação com o mundo: Bársena é musical. Larrosa valoriza a linguagem e palavras.

ü  Agir na brecha do tempo é o que está em jogo. O tempo presente nos dá matéria ao pensamento.

ü  Confiar que o porvir está aberto, e não a repetição indefinida do mesmo. A história pode continuar.

ü  É preciso ter um pé na rua e outro na biblioteca e a cabeça no meio. O que acontece na rua é matéria do estudo. Quando os estudantes perguntam o que fazer? Damos-lhes livros. Não devemos dizer o que é necessário fazer.

 

Observação: Esse material foi apresentado na reunião do GEL no dia  10/09/25 e destacou o conteúdo do livro referente à sua primeira e segunda partes (até a página 280).

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