AS EXPERIÊNCIAS DE ESTUDO EM TRÊS
DIMENSÕES
Luiza
Percevallis Pereira
O livro Elogio do Professor pode ser um livro de cabeceira dos professores,
pois amplia a liberdade de pensar a educação e os educadores. Ele faz parte de
uma coleção que valoriza a experiência de escrever dos professores, para transformar
o que eles já sabem e de transformá-los, tornando-os diferentes do que vinham
sendo. Refere-se à experiência de escrever que atribui novos sentidos à
educação e à prática docente, tendo o potencial de libertá-los de certas
verdades, que não lhes servem mais, diante das novas problemáticas
educacionais.
Se abrirmos o livro aleatoriamente,
podemos ver que cada texto, de seus 14 autores traz inspiração e reflexão sobre
o ofício do professor. Eles abordam a melancolia que os acomete vez em quando, a
escola em que vivem e a que gostariam de viver, a sala de aula, a artesania que
criam para desenvolver suas aulas e, principalmente, a beleza dessa profissão e
do legado que recebem, do qual fazem parte e que se responsabilizam pela sua
continuidade nas novas gerações. São tantos e tantos seus temas inspiradores,
mas hoje destaco: “As Experiências de Estudo”.
Essa escolha se sobressaiu das demais porque
a experiência de escrever nos leva à experiência de estudar, pois a escrita demanda grande
responsabilidade, tanto acadêmica como social. O educador, ao escrever, se
compromete com seu leitor, preocupa-se com a clareza do texto e a possibilidade
de seu entendimento, além das fontes que dão credibilidade a essa escritura.
Nesse contexto, destaco também a
proposição da professora Rosângela Machado, que participou de uma das reuniões
do GEL (Grupo de Estudos do LEPED), contando-nos sobre sua atuação nos
movimentos que ocorreram em Santa Catarina, que deram subsídios para a
elaboração desse livro. Ela refletiu conosco sobre a importância da avaliação
dos alunos ao ser pautada em suas experiências de estudo durante as aulas e
cursos, por serem mais significativas em relação à formação do estudante (um
dos desafios educacionais desse tempo contemporâneo no qual vivemos),
comparadas às provas avaliativas como têm sido feitas tradicionalmente.
Pensando em sua importância destaco três
modalidades de experiências de estudo que extraí do contexto do livro Elogio do Professor, pois avaliei serem
muito importantes para nós, educadores: as experiências de estudo com os pares,
as experiências de estudo com os teóricos e as experiências de estudo com os
alunos, a saber:
1-
Experiências de Estudo com os Pares
As Experiências
de Estudo com os Pares no livro estudado apresentam grau alto de proximidade dos envolvidos, de
cumplicidade, parceria e de confiança mútua, marcadas pelo vínculo forte da
amizade na profissão. Configuram-se, a meu ver, como relações de corpo e de
alma de educadores!
Esse clima faz com que os pares se
complementem. O professor Larrosa, por exemplo, explora a arte nas experiências
de estudo. Filma a escola, coloca-a sobre a mesa para que os alunos falem sobre
ela, conversem com ela, percebam sua beleza e pontos a melhorar, para que se
sintam pertencentes e compromissados com seus objetivos e rituais. No livro, Larrosa
dialoga com o professor Burlan que é produtor, roteirista, diretor de cinema, teatro
e professor. Um diálogo em que compartilham suas experiências de prática
consolidada.
Esses elementos vão compondo a
artesania dos professores. Suas escolhas e rituais foram desenvolvidos ao longo
das escritas dos professores autores desse livro. Entretanto, a proximidade
lhes deu o direito de aprofundar o tema e escrever sobre elementos que nem
sempre são citados nos livros sobre Educação. Dialogam sobre o amor: à escola, às disciplinas escolares, às
salas de aulas, às novas gerações, aos estudantes. Nomearam o “amor
pedagógico”, que põe o pedagogo em movimento, ao conduzir os alunos ao estudo. Valorizaram
assim a subjetividade humana e as experiências de formação, em que esses amores
vislumbraram e direcionaram seu caminho
de estudo para a educação.
Ao fazer minhas considerações no GEL sobre
esse livro considerei a educação como o ninho dos educadores. Assim como os
pássaros, o educador constrói e reconstrói esse ninho, firmando-se em sua base,
fortalecendo-a contra ataques dos predadores, ressaltando o teor diverso da
artesania que acontece em seu interior, seus
fundamentos e seus valores.
2-
Esperiências de Estudo com os Teóricos
No livro Elogio do Professor, muitos dos seus autores citam sua relação com
o trabalho de Hanna Arendet, filósofa, em sua teoria do mundo e da cultura e a
relação com a educação; também citam Javier Trímboli, um historiador que falou
sobre O comum na escola. Vale citar
também Richard Sennet, sociólogo e historiador, que, com o texto O Artífice, inspirou Larrosa para pensar
no ofício do professor. São muitas as citações que os autores fazem sobre suas experiências
de estudo com teóricos, muitos deles de outra área do conhecimento, que estão presentes em seu estudo e escrita nessa
obra.
Geralmente, as Experiências de Estudo com os Teóricos são mais solitárias que a
anterior, pois são individualizadas e realizadas por meio de livros e trabalhos
acadêmicos, mas também possuem níveis de proximidade quando se realizam em seminários,
conferências, congressos nacionais e internacionais, colóquios e afins.
Essa dimensão da experiência de estudo
é transformadora também porque aproxima os educadores aos teóricos que refletem
e pesquisam a Educação e a ação docente,
e as comparam no tempo presente ao passado, destacando os avanços e retrocessos
históricos, os reflexos de dominação e suas brechas. Assim, ampliam nosso pensamento sobre a
educação para uma dimensão inter e transdisciplinar, ampla e aprofundada.
Na minha explanação no GEL sobre o
livro considerei que essas Experiências
de Estudo com os Teóricos são parecidas com as paredes de um ninho, pois
permitem delimitar o espaço e deter-se minuciosamente ao que acontece em seu
interior. Nesse estudo possibilitou compartilhar conceitos, pensar sobre
vocação, linhagem e espírito artesão, dentre outros elementos presentes na
prática docente consolidada.
3-
Experiências de Estudo com os Alunos
As Experiências
de Estudo com os Alunos no livro Elogio
do Professor aconteceram principalmente nas aulas de estágio, que
promoveram encontros, envolvendo o
Colégio de Aplicação da UFSC e o Departamento de História da UESC, entre:
ü alunos em formação docente com professores que
atuam na educação básica;
ü alunos da formação básica e da formação docente;
ü professores da universidade com alunos da
formação básica;
ü
professores da
educação básica e da universidade.
Essa experiência de estudos de estágio
abrangente nem sempre acontece na formação de professores que, geralmente, se
restringe aos encontros entre alunos em formação docente e professores que
atuam na educação básica.
Nesses encontros, o diálogo versou
sobre percepções referentes à escola e
seus referenciais teóricos com o objetivo de preparar os alunos para a
realidade da sala de aula. Seu principal objetivo foi expor seus elementos e
transformá-los em matéria de estudo.
São experiências que exigem dos
participantes: curiosidade, abertura para o novo, comprometimento social, criatividade
e o enfrentamento do medo de olhar a própria prática docente e discente.
Essa dupla rebelião do olhar frente ao
ato de receber as novas gerações na educação escolar é uma necessidade do nosso
tempo, que na explanação que fiz sobre o livro no GEL identifiquei como o
alimento no ninho da educação, que ainda apresenta carência, para que o vôo de
todos seja possível.
Para Larrosa:
“Receber é fazer lugar, é abrir um espaço no qual aquele que vem possa habitar,
colocar-se à disposição daquele que vem, sem pretender reduzí-lo à lógica que
rege em nossa casa, pois lidar com a infância, algo que de antemão já sabemos o
que é e como matéria-prima para a realização de nossos projetos, desejos e
expectativas para o futuro é reduzir drasticamente o significado do nascimento
de um novo ser no mundo”. (Ferreira, M., 2021 apud Larrosa, 1998).
No último encontro do GEP estendemos nossa
reflexão para as experiências de estudo de professoras junto a alunos com deficiência,
que fazem parte de um trabalho acadêmico de doutorado de uma das participantes
do grupo. Outras reflexões focaram a convivência entre alunos com e sem
deficiência nas salas de aula. São temas que também se apresentam como desafios
educacionais dos tempos atuais. A sala
de aula como espaço de cidadania foi a afirmativa da professora Maria Tereza E.
Mantoan que encerrou nosso encontro e me instigaram a compor o seguinte
acróstico:
A sala de aula e a cidadania
Luiza Percevallis
Pereira
S
eguir estudando nos livra de certas verdades,
A
perfeiçoa nosso amor pedagógico e seu movimento.
L
igar-me aos princípios da Educação Inclusiva me trouxe essa liberdade!
A diferença e a igualdade em sua base instigaram
esse sentimento!
D ia a dia na sala de aula, as diferenças
emergem, com suas raízes,
E m experiências
escolares, nos seus diversos fatores e matizes!
A igualdade designa igualdade de direitos e de
pertencimento!
U ns a aceitam, outros lhe fazem
questionamento.
L ugar para experiências de estudo, de
convivência e de ousadia,
A sala de aula aberta, viva e comum é espaço de
cidadania!
E xperiências de estudo ampliam nossos
pensamentos,
A convivência,
contudo, nos enlaça a novos sentimentos!
C ada estudante, cidadão na sala de aula, tem
direitos essenciais.
I ncluídos
todos eles, com suas diferenças físicas e sócio-culturais,
D escartando marcas de homogeneidade,
seletividade e normalidade,
A sala de aula, como espaço de cidadania,
acolhe-os, em sua humanidade.
D
estarte, esse acolhimento tem sido lento, mas com futuro promissor...
A
educação, sabemos, tem legado transmissor e renovador.
N a
sua história, estiveram presentes questionamentos diversos,
I nduzidos
pelo instinto dominador chegam, mas se mostram adversos!
A
sala de aula em seu legado é um refúgio, que nos transforma, libertos!